COM MUITA PAZ
SAÚDE E AMOR!!

Viajo pelo mar das incertezas e angústias. Busco a praia da paz e das lembranças felizes...
Amo as pedras da rua, como amo as pessoas…
porque a elas, também confidencio os meus passos.
E sigo sempre em frente…
sem medos e sem angústias.
As pedras seguram os meus pés,
às vezes exangues e trôpegos.
Quantas vezes
estas mesmas pedras
receberam água do meu rosto,
e gélidos gestos de fuga.
os caminhos seriam deuses…
A vida reflecte-se nos meus olhos…
mareados por trinta anos de amor.
que me persegue com passadas
rápidas e dolorosas.
e espreito o que está por vir.
Se já passaram trinta anos,
que mais haverá por descobrir?
E interrompo o tempo teimosamente!
Do meu ser tudo tiro…
para que a mim tudo volte,
Novamente…
Eternamente…
“Foi Assim” de Zita Seabra, foi um livro que li em dois dias e o qual já cataloguei, como um dos livros da minha vida.
Para mim, que nasci após o 25 de Abril, foi emocionante sentir toda aquela ambiência e viajar através de todas as vivências da autora.
Deixei-me guiar pela mesma paixão com que se abraça uma causa e como, de forma por vezes brutal, nos deparamos com uma realidade sórdida, que põe em causa todos os valores que até então defendemos.
Parabéns a Zita Seabra pela coragem e pela forma exemplar com que nos dá uma lição de história.
Hoje partilho um segredo.
Estava morto,
solitário enregelado.
amordacei-me ao desespero.
Descontrolei-me
e fui ao encontro da morte.
rosto sombrio e disforme…
uma mão agarra o meu peito
e uma luz atravessa o coração…
Voltei-me e vi Deus…
O meu lugar é a Vida
e não o eterno Adeus.
a angústia, o sofrimento…
ficou um segredo
nascido do encanto,
daquele eterno momento.
Desenganem-se aqueles que acreditam que eu não posso voar.
Mostrar-lhes-ei as minhas asas feitas de sonho e de desejos.
E depois…
Viajarei por céus estrelados e luminosos…
subirei ao cume dos Deuses.
indo de encontro ao mar…
mergulharei feliz nas ondas quebradiças
onde o tempo não entra,
e onde tudo é êxtase!
Apesar de pensar noutras viagens, acabei por aceitar que este é o meu porto de abrigo.
Onde encontro paz e tranquilidade… onde as palavras me devolvem à plenitude dos encontros místicos.
Afinal… vou ficar!!
Sereias e criaturas encantadas do meu mar abracem-me e beijem-me…
o Oceano canta a minha chegada e a sua espuma, ornamenta-me o corpo nu…
Isabel chegou e pousou as suas mãos nas costas da minha cadeira. Balancei ligeiramente a cabeça e notei que os seus olhos reflectiam um certo mal estar.
Aquele verde penetrante, estava imerso num caudal de lágrimas, pronto a soltar-se.
- Que tens Isabel? – perguntei.
- Sabes que há uns tempos que me ando a sentir mal. Um cansaço constante e umas dores de cabeça infernais.
Certamente que Isabel estava a precisar de umas boas férias. Trabalhava muito e eu sabia bem o quanto isso a tinha desgastado nos últimos tempos. A empresa expandiu-se e todos nós tivemos que suar abruptamente.
Reparei então que as suas mãos tremiam, encostadas à minha face. Estavam frias e húmidas.
- Estás a deixar-me preocupado Isabel.
O meu rosto estava agora estranhamente padecente.
- Fiz o teste de despistagem ao VIH. Sou seropositiva.
Aquelas palavras soaram-me a sentença de morte. Não conseguia imaginar uma amiga, jovem e bonita, morrer de uma doença pérfida e humanamente incompreensível.
- Como foi isso acontecer? – estava perplexo.
- Francisco, simplesmente aconteceu. Não perguntes como. Diz-me apenas como posso ainda ser feliz.
Não respondi… esfreguei as mãos no meu cabelo, hábito que adoptei quando surge algum problema e, deixei-me levar pelos pensamentos que afloravam na minha consciência.
- Para começar, vais fazer as malas. Hoje é Sexta Feira, a meteorologia anuncia calor para o fim de semana e o mar aguarda-nos.
Isabel sorriu… naquele esgar de rosto, reparei que as almas perpetuam-se em corpos frágeis… a morte não existe!
Viajámos entre lágrimas e risos… segredámos confidências sinceras.
Chegados ao destino, avistámos as ondas, que espumavam caudais brancos sobre as rochas negras. Em silêncio, contemplávamos a voz irada do oceano.
- Tudo é tão perfeito, Francisco. Passamos pela vida e ignoramos o que se estende para além do horizonte. Esfumamos o belo, como se ele nunca existisse.
Isabel estava agora comovida. Pensei se quando somos sentenciados de morte, aprendemos que a vida tem muito mais que o banal do quotidiano.
- Isabel, vamos caminhar. Arregaça as calças.. descalça-te e deixa que os pés toquem o infinito entre mar e terra. Perpetuemos a nossa amizade, ao som das trombetas de Neptuno e do canto ameno das Sereias.
- Sempre tão poético, meu querido amigo.
Fiz uma expressão de desconfiança, que logo se desfez em mais uma gargalhada.
Era já noite, quando abandonámos a praia. Uma leve brisa fresca tocava os nossos corpos cansados. As pernas reclamavam descanso. A caminhada tinha sido longa… as brincadeiras, mais que muitas.
Deitámo-nos nas areias inertes e a lua brilhou para nós.
- Acreditas que existe vida para além da morte? – perguntou-me Isabel.
- Sim… acredito mesmo! Nada faria sentido, se assim não fosse. Mas a tua viagem ainda vai demorar. A ciência evolui a cada dia. As esperanças renascem sempre…
- Hummm – murmurou com tom de incredulidade.
Adormecemos. Quando a manhã surgiu, reparámos que os nossos corpos estavam cobertos por uma areia fina… de um perfume suave…
- Francisco, acreditas que as amizades salvam?
- Se os sentimentos que constroem as amizades são verdadeiros, então a eternidade pertence-nos.
- Tal como as estrelas pertencem ao céu…
- Isabel… tal como as nossas almas, pertencem ao infinito.
Os dias passaram… a rotina voltou! Isabel iniciou os tratamentos. Falávamos quase diariamente. Teve uma paixoneta pelo Diogo, médico auxiliar no Instituto de Doenças Infecto-contagiosas.
Eu fui destacado para a Suécia. Uma filial da empresa… um óptimo ordenado. Condições de vida excelentes.
Constantemente enviava e-mails à Isabel. Sempre preocupado com o seu estado de saúde… sempre em busca de resultados positivos.
Passaram dois anos e Isabel encontrava-se melhor. O Diogo tinha sido um companheiro extremoso. Era uma presença importante no caminho de Isabel. Um trilho cujo fim, era sempre uma incógnita.
Num dia frio de Inverno, cheguei a Portugal para uma formação. Visitei a família e calcorreei lugares preenchidos pela saudade.
Decidi então ligar à Isabel. Queria vê-la… estava ansioso por esse momento. Fazia no dia seguinte um mês, desde o nosso último e-mail.
Estranhei quando após larga insistência, ela não atendeu o telefone. Liguei para o hospital.
- Quero falar com o Dr. Diogo Silva, por favor.
- Um momento. Vamos transferir a sua chamada.
O meu coração acelerou. A música da chamada em espera irritava-me profundamente. Sempre fui impaciente…
- Estou??
- Diogo, é o Francisco. Tudo bem?
A respiração do outro lado da linha tornou-se ofegante. A voz emudeceu. Percebi de imediato. Algo de muito grave tinha acontecido.
- Diz-me que está tudo bem, Diogo.
- Francisco, a Isabel morreu!
Não consenti no meu pensamento aquela palavra! Não e não… a morte não existe!
- Conta-me o que se passou. Quero entender… preciso de saber… - a minha insistência era agora doentia.
Após silêncios humedecidos por choros inconsoláveis, Diogo contou-me o sucedido. Uma pneumonia a que Isabel não resistiu. Estava muito fraca devido aos tratamentos. Foi fatal!
Prometi encontrar-me com o Diogo no dia seguinte. Naquele dia não era capaz de o fazer. A notícia da morte da minha amiga endurecia o meu coração… gritei, injuriei tudo e todos!
Havia uma coisa a fazer. Entrei dentro do meu carro e dirigi-me para a praia… só aquele cenário que tinha sido testemunha de uma das amizades mais belas e duradouras, podia amenizar a minha dor.
Caminhei ao por do sol… pisei areias infinitas e mergulhei nas águas gélidas do abismo marinho.
Encostei-me a um rochedo, imergente da espuma feita de fúria e desespero. Ao longe, soou uma melodia cálida. Serenei o espírito e busquei a voz.
Ali… no crepuscular luar, encontrei a Deusa perdida da noite. Mareada por luzes soltas, olhou-me. Reconheci o rosto de Isabel… e com um sorriso, desbravou-me ímpetos de amor e de amizades felizes!
Lágrimas…
azul de mar
que não cessa.
fronteira incauta
entre dor e água.
estou eu…
corpo de mar
que flutua…
que desfruta dos encantos
malfadados prantos…
Oh sonho perdido
entre cascatas ondulantes…
que respiram maresia
nasço e renasço
corpo frágil,
mudo do mundo
e do infinito...
O Céu partiu-se…
uma luz divina iluminou
a minha solidão.
escondi-me sobre a bruma
quente e sedosa da noite.
Rebentaram ventos plangentes…
Sussurraram palavras comoventes…
E eu…
Cercado de espanto,
Procurei a raiva tranquila
De quem padece e não ama…
Dos que sofrem e calam…
Infundadas…
Achei-me nu de mim mesmo…
e a humilhação impede,
de pronunciar a palavra
AMÉN!
A noite passada sonhei com o amor.
Não me lembro bem a forma que tinha, mas sinto ainda o seu perfume meloso, imerso num caudal de nuvens fofas.
Quando o olhei nos olhos, perguntei-lhe simplesmente quem procurava. Riu-se, esticou as mãos e sussurrou ao meu ouvido palavras que não pude mais esquecer:
- Não procuro… afinal encontrei…
No inicio questionei-me, porque nada entendia… os meus olhos estavam cravados de espanto.
Ele deve ter percebido, pois voltou a repetir aquelas enigmáticas palavras:
- Não procuro… afinal encontrei…
Abraçou-me e senti o seu coração bater junto do meu. Extasiei-me ao sabor daquela paisagem que nos envolvia. Trespassaram-me sentimentos aprazíveis, cândidos, sedutores e orgásmicos.
No tempo imperecível que durou aquele abraço, pareceu-me que o meu Eu não era Eu… viajei por paraísos escondidos e impenetráveis… encontrei encantamentos e devaneios… aterrei em terra fértil, plantada de afectos e de prazeres.
Acordei então, debruçado sobre o colo cálido daquele ser. Acolheu-me com um sorriso e um olhar encantador… libidinoso.
- Diz-me… quem és?
- Neste sonho que alimentaste emotivamente, apareci-te para que acredites em mim… decidi evocar-te para me encontrares aqui… neste lugar limpo de imperfeições e de dor. Eu sou apenas o AMOR…
- O Amor que nos faz sofrer? – questionei perturbado.
- Não… eu sou o Amor que vos faz VIVER!
Senti de repente um aperto no peito e não mais voltei a ver aquela imagem sedutora e amiga.
Agora estava deitado na minha cama… naquele mesmo quarto que me acolhe todas as noites e ao qual eu confio os meus dias…
O AMOR FAZ VIVER
O menino e velho Chico viagens
Mergulham em meus olhos
Barrancos, carrancas, paisagens
Francisco, Francisco
Tantas águas corridas
Lágrimas escorridas, despedidas
saudades
Francisco meu santo, a velha canoa
Gaiolas são pássaros
Flutuantes imagens deságuam os
Instantes
O vento e a vela
Me levam distante
Adeus velho Chico
Diz o povo nas margens
Por vezes sei que parto na busca do tudo e do nada.
Porque amanhã regressarei de mãos vazias e desprovidas de forma,
hoje transcendo-me e julgo olhar o ignóbil
e o absurdo.
reajo com brusquidão ao sol apagado
pela mágoa imperfeita e tosca.
encontro amálgamas de ódios conspurcados.
penetra-me e aflige-me…
porque tudo se esvai
E nada fica…
e o tudo…
ainda não sei.