O "trailer" mil vezes apresentado na televisão até prometia.
Infelizmente, o produto final fica muito aquém do esperado. O argumento não flui, há erros gritantes de "casting" (ninguém me diga que José Fidalgo é actor), e chega a ser maçador assistir a algumas imagens, que nos transportam para uma qualquer telenovela.
Falta um enfoque maior na brilhante carreira de Amália, que é descaradamente passada para segundo plano, em prol da mulher deprimida e profundamente angustiada.
Amália tinha uma tristeza muito grande, é um facto. Só assim pode ser quem foi (é). Mas era muito mais que tristeza e abandono.
No final, fica a sensação de um vazio inexplicável. Como se nada do que vimos, retratasse inteiramente a nossa Amália.
Há dois ou três momentos emocionantes: algumas passagens da infância e sobretudo, a despedida de Alain Oulman.
Escrevo estas linhas ao som da banda sonora do filme, cujos temas de Amália são seguramente bem escolhidos. Parabéns ao Nuno Malo pelas quatro faixas originais.
Como admirador de Amália Rodrigues, prefiro de longe reler a sua biografia, brilhantemente elaborada pelo Vítor Pavão dos Santos, ou até rever o Musical de Filipe La Féria, que durante seis anos em cena arrebatou plateias.
Eu era ainda uma criança. Mas esta canção ficou na minha memória para sempre. Num tempo em que a música portuguesa tinha tantas pérolas.
TELEPATIA
Ana Zanatti /Nuno Rodrigues
Telepatia
Silêncio, Calma
Feitiçaria
Da tua alma
Passo a passo
Sem ter medo
Abrimos, soltámos
O nosso segredo
E a sorrir
Devorámos o mundo
Num abraço
Tão profundo
Telepatia
Sem contratempo
Deixei-te um dia
Num desalento
E eu sonhava
Existia
Pra sempre, pra sempre
Foi pura poesia
Sem pensar
Não vi-te, passavas
Pelo meu corpo
Não ficavas
Telepatia (faladO)
Minha querida, eu soube sempre
Eu já sabia que te ia conhecer
Fiz tanta força
Para isto acontecer
És tão bonita meu amor
Eu não te queria perder
Já sei, adivinho
O que estás a pensar
Vim do outro lado do mar,
Talvez outro dia volte, não sei
Mas penso em ti, acredita
Adivinhei-te em segundos
Quando jurámos eternidade

As ruas estavam desertas, as luzes dos candeeiros de estrada ofuscavam o brilho da lua. O frio cortava o meu rosto, que teimosamente encostava à janela.
Decidi parar junto a um lago artificial, que durante o dia faz as delícias paisagísticas da minha velha cidade.
Saí do carro e fui caminhar. Os cisnes acordaram e assustaram-se com a minha presença. Estava escuro, muito escuro, mas os meus passos permaneceram firmes.
Deitei-me sobre um banco rectangular, aconchegado sobre mim próprio. Um vento gélido soprava emoções cansadas sobre os meus ouvidos.
Apeteceu-me chorar…
As lágrimas apareceram e tremi. Nesse instante, uma mão pousou na minha cabeça. O meu cabelo sentiu-se atraído por aquele movimento meigo e quente.
Uma mulher idosa, vestida de preto, com um chapéu sem abas e gasto pelo tempo, observava-me com um olhar materno e feliz.
Levantei-me, mas ela colocou os seus dedos nos meus lábios, interrompendo o fluir das palavras.
- Não tenhas medo meu filho. Sou apenas uma velha… nada mais que uma velha.
A sua voz era sedosa, e pegando num lenço desbotado, limpou a minha cara.
- Que fazes aqui a uma hora tão tardia? Não sabes que os ventos da noite arrastam tristezas e agonias? Os Seres do Vazio arrastaram-te até aqui para te possuírem. Levanta-te e segue o teu caminho.
- Que Seres? Que Ventos? Perguntei eu intrigado.
A Velha pareceu não ouvir as minhas perguntas.
- Vês ali aquela Estrela? – e apontando com um sujo dedo para o céu, ergueu os seus olhos azuis para os meus.
- Sim – respondi eu, meio assustado.
- Então segue-a. Vai… parte já, antes que o dia chegue e a roube.
Levantei-me de rompante, imbuído por algo que não compreendi bem. Corri, e ao longe ainda virei o meu corpo,
Cheguei junto do carro e parti sempre em busca da estrela brilhante. Quando ela estava mesmo sobre mim, ouvi uma voz.
Desta vez, uma voz conhecida! A voz desse alguém que me fez chorar, prostrado no frio banco do lago.
Abraçámo-nos como se o mundo acabasse ali mesmo. Os nossos lábios tocaram-se e um mar de estrelas abençoou aquele momento.
Rompeu o dia e fui novamente ao lago, intrigado. Não vi ninguém. Corri e procurei, mas nenhum vulto encontrei.
Quando me debrucei sobre as águas, o velho chapéu sem abas flutuava, e um belo cisne branco de grandes olhos azuis, ergueu as longas asas e saudou-me.
Hoje acordei e pensei nos velhos amigos de liceu. Apeteceu-me recordá-los, porque uma parte da minha vida está ainda com eles.
Fizemos tantos planos e construímos juntos, tantos projectos.
Qual o curso que iríamos seguir? Em que idade pensaríamos casar e ter filhos?
Foram momentos loucos, de partilha diária e vivências apaixonadas. Era como se nada no mundo importasse, porque nos tínhamos uns aos outros, e por isso mesmo, a amizade que nos unia, era a mais imponente fortaleza intransponível.
Os anos passaram e os objectivos de vida mudaram. Os caminhos dispersaram e são já poucos os cruzamentos, em que nos encontramos. Mas quando o encontro acontece, já não nos abraçamos com a mesma força. Aproveitamos para lamentar as dificuldades diárias, os desígnios misteriosos que nos destruíram sonhos.
É certo que eles mudaram! Eu também mudei…
Mas hoje acordei… e pensei nos meus velhos amigos! Pensei e voltei a pensar… e tenho saudades!
É sempre muito complicado expressarmos o que sentimos, quando vemos em palco o grande ídolo da nossa adolescência.
Porque ao vermos e ouvirmos quem gostamos, uma torrente de sentimentos faz-nos transportar para uma outra dimensão, onde o êxtase nos habita por completo.
E Madonna é muito mais que uma Artista. É alguém que sabe mexer connosco, que nos toca até ao âmago…
Por isso, não são de estranhar as emoções vividas no Parque da Bela Vista, naquela noite de Domingo, dia 14 de Setembro.
Foram muitas e sentidas em pleno.
Cantei, dancei, vibrei com a energia daquela mulher, que me escandaliza de prazer, cada vez que a olho.
Para além de um grande espectáculo de puro entretenimento, há uma qualquer luz que me leva mais além… talvez até à magnífica lua, que do alto daquele céu, quis espreitar também Madonna.
E no final agradeci… sim, uma prece de louvor aos Deuses, que por uma noite dispensaram a sua mensageira, para extasiar o povo português.
AMEN MADONNA!




Nada…
e de repente o vazio.
que desilusão…
o ar enjoa
o Ser Humano enoja-me
e a fúria voa.
Soam compassos
arrastados
em longos murmúrios
de sofreguidão.
Silêncios…
tudo mudo,
quieto…
o mar desnudo
extasia-me de perto.
Eu já não sou eu
e tu já não és tu.
Somos espectros
habitando o invisível…
sim, eu sei…
deixei de ser O Sensível!
Mas que importa?
Agora tudo é vão..
vai..
e deixa-me contemplar
sozinho,
perturbado,
amordaçado,
a plenitude