segunda-feira, maio 08, 2006

CONFISSÃO

No outro dia, um Padre da Igreja Católica, meu amigo, com trinta e poucos anos telefona-me para fazer uma surpreendente confissão.
O meu primeiro pensamento, juro, foi o de constatar que os papéis estavam invertidos... afinal não é ele que ouve em confissão almas sobressaltadas por dores agudas e espantos demoníacos?
A frase fatal parecia não querer sair... "sou gay! Tenho um relacionamento com um rapaz de vinte e seis anos!"
Arrepiei-me todo! Não por falso pudor, mas porque ouvir da boca de um Padre, que afinal também ele se enrola com outra pessoa em momentos de prazer absoluto e proibido, ainda soa a choque... pelo menos para mim, que ainda fui educado (pasme-se), no mais conservador catolicismo.

"Eu amo-o! Não o quero perder... isto é puro AMOR!"

- Mas que amor? E como pode ser puro? E a tua vocação? O Sacerdócio?
Incontáveis perguntas electrificaram-me o cérebro...
- Não te posso responder já... preciso de tempo para reflectir no que me disseste. Quero encontrar respostas... alternativas a esse sofrimento que te devora.

Fiz uma caminhada, li textos Bíblicos, apreciei o pôr do sol e a lua mágica que de noite me iluminava... lembrei a minha meninice e a Freira simpática que me doutrinou. Afinal, ela sempre me falou de um Deus de amor.
Se Deus ama tanto... se Cristo rogou para que nos amássemos uns aos outros, como Ele nos amou, então não podia haver crime pecaminoso nesta relação.
O Amor é o sentimento mais nobre do mundo... é ele que faz girar este planeta na direcção certa (tantas vezes vencido pela guerra, fome, destruição, pobreza...)

Mas e a vocação do meu amigo? Que fazer com o chamamento que ele sentiu quando jovem e que ainda é tão forte?
Pode-se servir a Deus e amar alguém? Mesmo que esse alguém seja do mesmo sexo?

Eu acho que pode...
Há-de haver alguém a latir e a pedir condenação. Já os oiço ao longe, em redor da sacristia:
"Como é que essas mãos conspurcadas ousam abençoar e dar o Corpo Santo do Senhor?"
Mas também oiço Deus, lá do alto:
"Só o Coração limpo Salva! Só o Amor tudo redime!"

AMEN


7 comentários:

Confessionário disse...

É muito complicado comentar este post. Já o seria se o caso amoroso tivesse a ver com alguém do sexo oposto, quanto mais com alguém do mesmo sexo. Sabes, se a questão aqui fosse o celibato, facilmente se daria uma opinião!! Mas não é. Extrapola essa questão. Eu posso até dizer que a vocação pode não ter a ver necessariamente com o celibato, mas assim como colocas a questão, torna-se mais difícil. Acredito que seja possível amar alguém e servir Deus, isso sim. Aliás, não sei como alguém que não ame consiga servir a Deus. Só que não terá de necessariamente ser um amor de dois seres que se unem na maior intimidade.
Eu penso que Deus nos quer ver a todos felizes, acima de tudo, isso, felizes. Aliás a palavra bem-aventurados tem esse significado. E todos sabemos (eu, pelo menos, falo imenso nisso, estou convencido disso) que a felicidade passa necessariamente pelo amor, pela forma como amamos e somos amados.
Acredito que Deus quer esse padre feliz... e este tem de procurar a felicidade, aquilo que o faz feliz. Não me compete a mim avaliar a forma como ele procura a felicidade. Não julgo. Quem pode julgar é Deus.
O problema torna-se mais difícil de colocar na hora de isso se confrontar com a fidelidade da vocação. Pode até ser um bom padre, mas não estará propriamente a ser fiel. E como proceder? Assumir? Esconder?
Olha, amigo, quero crer, como a Igreja defende, que não está em causa a pessoa, mas os actos em si. Não sei se é verídica esta tua história. Até porque essas coisas não me parece que se falem ao telefone e com essa facilidade. Mas se é, concerteza que vais ter de o ajudar imenso. Sobretudo a sentir-se bem como é e a procurar o caminho certo da sua vida.
Deus não é como os homens, e vai aceitá-lo como ele é. Mas quanto aos homens, não sei não!

VIAJANTE DO MAR disse...

Obrigado pelo teu comentário.
Sim, esta história é mesmo verdadeia. Claro que depois do derradeiro telefonema, houve mais do que uma conversa pessoal.
Vou ajudá-lo... até porque a luta interior com que ele se debate, deve ser das coisas mais dolorosas.

José Fernandes disse...

Onde é que eu já vi este filme... deixa-me pensar. Um dia uma amiga vinha contar-me que uma amiga casada tinha um caso com um padre e que ela estava incomodada por ter sido a confidente desta sua amiga e tinha tido a coragem de ter tido uma conversa séria com esta amiga.
Assim sentou-se em frente ao espelho e disse à sua amiga tudo o que pensava dela e que também ela aceitava essa situação pois quem era ela para julgar quem.


Ali o senhor abade do confessionário pode ter toda a razão do mundo mas não está já a dizer o que "acha" que Deus acha desta relação contra natura?... e, o engraçado desta questão é que... não existe qualquer padre!

Foi uma acha para a fogueira a ver no que é que dá, que o meu querido amigo Seawalker gosta de fazer.

Pois eu acho, se calhar mal, que a homossexualidade masculina ou feminina é um distúrbio da personalidade, que pode e, deve ser tratado. O pomo da questão é que essas pessoas não consideram que tenham qualquer disfunção na escolha sexual. Assim como antigamente "quem não tinha papo não era guapo", isto porque era tão normal ter-se uma disfunção da tiróide que já era normal todos terem essa disfunção e aceitarem-na como a mais normal das situações.

Hoje felizmente que o hipertiróidismo já é tratado com bastante sucesso e, já não é preciso dizer que quem não tem papo não é guapo.

Elfo disse...

Um emigrante inglês ao chegar à Austrália perguntam-lhe qual a razão de ter optado por sair de Inglaterra e ir viver para a Austrĺia.
O emigrante respondeu:
- Quando eu era jovem, ser-se homossexual era visto com desprezo e desconfiança e era-se marginalizado; na minha idade de jovem adulto os homossexuais já eram tolerados e vistos com alguma bondade. Hoje no meu país os homossexuais já têm direitos civis e podem inclusive casar pela igreja anglicana.
- Mas então porque se veio embora?, pergunta candidamente, o funcionário da alfândega.
- Vim-me embora antes que se tornasse obrigatório ser-se homossexual para ter os mesmos direitos que se tinham antigamente.

Dad disse...

É terrível quando por motivos vários temos que levar uma vida dupla só para sermos aceites socialmente. Acho que é preciso muita coragem para assumir e agarrar a vida nas mãos, mas a verdade é que Deus fez-nos para tentarmos ser felizes - alguém poderá amar a Deus e ao próximo como a si mesmo sendo profundamente frustrado como ser humano???Não ficaré antes um revoltado???

Para tudo há um peso e uma medida e é preciso muita coragem para fazer opções, mas creio que estas deverão ser feitas, por amor a si próprio e por exemplo de rectidão para os outros.

O caso citado é só um - deverá haver tantos e gente tão profundamente infeliz por causa de todas estas coisas ligadas ao amor e ao sexo!

Tenho pena de todos os que se confrontam com estes dramas e enquanto a sociedade não conseguir mudar a maneira de ver "o outro", tudo continuará na mesma...
gerando seres ou fracos ou infelizes para não serem excluidos.

Dark Moon disse...

E o que é a vida sem amor? Nada!
O q somos todos nós? Amor
Para que existmos? Para experienciar... e lá há Experiência mais sublime que Amar?

"Amar-se a si mesmo é o início de um eterno romance" Oscar Wilde.


É por isso que sou uma eterna apaixonada!!

Beijos Amorosos,
Dark Moon

Anónimo disse...

best regards, nice info »

 
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