terça-feira, novembro 11, 2008

Ontem

Ontem não consegui dormir. A minha cabeça fervia em pensamentos que não podiam ser bons. Vesti-me, peguei no carro e fui passear.
As ruas estavam desertas, as luzes dos candeeiros de estrada ofuscavam o brilho da lua. O frio cortava o meu rosto, que teimosamente encostava à janela.
Decidi parar junto a um lago artificial, que durante o dia faz as delícias paisagísticas da minha velha cidade.
Saí do carro e fui caminhar. Os cisnes acordaram e assustaram-se com a minha presença. Estava escuro, muito escuro, mas os meus passos permaneceram firmes.
Deitei-me sobre um banco rectangular, aconchegado sobre mim próprio. Um vento gélido soprava emoções cansadas sobre os meus ouvidos.
Apeteceu-me chorar…
As lágrimas apareceram e tremi. Nesse instante, uma mão pousou na minha cabeça. O meu cabelo sentiu-se atraído por aquele movimento meigo e quente.
Uma mulher idosa, vestida de preto, com um chapéu sem abas e gasto pelo tempo, observava-me com um olhar materno e feliz.
Levantei-me, mas ela colocou os seus dedos nos meus lábios, interrompendo o fluir das palavras.
- Não tenhas medo meu filho. Sou apenas uma velha… nada mais que uma velha.
A sua voz era sedosa, e pegando num lenço desbotado, limpou a minha cara.
- Que fazes aqui a uma hora tão tardia? Não sabes que os ventos da noite arrastam tristezas e agonias? Os Seres do Vazio arrastaram-te até aqui para te possuírem. Levanta-te e segue o teu caminho.
- Que Seres? Que Ventos? Perguntei eu intrigado.
A Velha pareceu não ouvir as minhas perguntas.
- Vês ali aquela Estrela? – e apontando com um sujo dedo para o céu, ergueu os seus olhos azuis para os meus.
- Sim – respondi eu, meio assustado.
- Então segue-a. Vai… parte já, antes que o dia chegue e a roube.
Levantei-me de rompante, imbuído por algo que não compreendi bem. Corri, e ao longe ainda virei o meu corpo, em busca da Velha Senhora, misteriosa e atraente. Acenou-me e sorriu.
Cheguei junto do carro e parti sempre em busca da estrela brilhante. Quando ela estava mesmo sobre mim, ouvi uma voz.
Desta vez, uma voz conhecida! A voz desse alguém que me fez chorar, prostrado no frio banco do lago.
Abraçámo-nos como se o mundo acabasse ali mesmo. Os nossos lábios tocaram-se e um mar de estrelas abençoou aquele momento.
Rompeu o dia e fui novamente ao lago, intrigado. Não vi ninguém. Corri e procurei, mas nenhum vulto encontrei.
Quando me debrucei sobre as águas, o velho chapéu sem abas flutuava, e um belo cisne branco de grandes olhos azuis, ergueu as longas asas e saudou-me.



7 comentários:

Marta disse...

Que lindo texto! E ele só prova que a vida não pára e que há sempre um dia lindo de sol depois de uma noite de tempestade...

Beijos grandes, amigo!

peter_pina disse...

estou todo arrepiado e com um sorriso na cara! obrigado por teres escrito este texto!

Ariane Rodrigues disse...

Bonita estória para se guardar na memória! Beijo!

LjoSaLfAr disse...

Sim, a história que contas é muito bonita. O cisne é um animal com uma carga simbólica muito grande que tem servido para transmitir a ideia de pureza, ou da "poética da pureza" a quem lê. Recomendo a esse propósito a (re) leitura do conto "Os Cisnes Selvagens" de Hans C. Andersen. Há uma edição em linguagem para adultos dos vários contos "deste" autor na colecção LIVRO B da Editorial Estampa.
A carga simbólica dos vários elementos que se utilizam na construção de uma história é que determina a sua qualidade aos olhos de quem lê. Acho por isso que deves continuar nesta linha. Muita força, amigo!!

nina disse...

Adorei o teu conto. Lindo como tu, porque tu és uma pessoa linda "maninho"! ;)
Bjos

Anónimo disse...

Olá viajante
Que te poderei dizer...q me fizes.te chorar ao ler teu texto
q simbolizou bastante pra mim
Há algo de misterioso q sinto em ti;Fascina.me!Ontem n vim cá pq me perdi tb...se encontrei alguma estrela? lutei bastante mas por fim tb a encontrei vou segui.la c a certeza de q algo bom brilhe...
Nem q seja por um momento.
Beijos

Anónimo disse...

Simplesmente: LINDO!

Beijos,
Dark Moon

 
;